sexta-feira, 22 de junho de 2012

Saudade


   - Não tem nada aqui, pode dormir tranquila

   Durante essa semana eu só dormia assim, meu pai vinha toda noite ao meu quarto olhava os armários e debaixo da cama e me falava que eu podia dormir sem medo, isso me tranquilizava, não só por que sabia que poderia dormir sem ter nada pra me assustar a noite, mas também por saber que meu pai estava ali pra velar por mim.

   Mas isso ainda não diminuía os pesadelos, que dia após dia vinham me fazendo acordar toda molhada de suor e aos gritos.

   Nunca vou lembrar como eram esses sonhos, a única coisa que me lembro era de que quando acordava assustada podia saber que ele estaria ali pra que eu pudesse abraça-lo.

   Esse era o tipo de coisa que me dava segurança e fazia com que eu me sentisse amada.

   Sinto falta da segurança que ele me dava.

   Só hoje posso perceber o quanto isso foi bom pra mim, infelizmente como diz o clichê, nós só sabemos que era bom depois que perdemos, e comigo não foi diferente.

   Lembro que saiamos pra assistir filmes, e era sempre divertido, quando não tínhamos grana pra ver filmes, andávamos próximos a nossa casa mesmo, o importante era estarmos juntos, mas os anos passam e chega uma certa idade que não se sabe por que você sente que está tudo errado, e mesmo o que antes agradava agora se torna maçante de conviver.

   Notei que na minha adolescência me tornei mais reclusa, me entregava nos livros e jogos, e até mesmo os filmes que antes eu assistia com tanto animo, só pelo simples fato da presença dele, acabaram se tornando uma rotina que eu curtia sozinha.

   Muitos convivem mais com os amigos nessa época, eu não fui assim. Comecei a ficar cada vez mais reclusa, não sabia por que, mas a presença de qualquer um começou a me incomodar, e com isso não percebi que me tornava solitária demais, e às vezes ao sentir essa solidão apertar eu me perguntava, por que será que estou tão sozinha?

   Só sei a resposta agora, esse é o tipo de coisa que só o tempo ensina, e só ensina quebrando a sua cara, minha cara só quebrou no dia que recebi a noticia, havia algum tempo eu já não morava mais com meus pais, e me arrependo de não ter estado presente no momento que ele se foi, infarto, um forte mal súbito, isso que dizia o médico, senti na hora o peso dos anos que não convivemos.

   Hoje sei que perdi muito sem você, e sei que não tem como compensar, mas vou tentar viver melhor e conviver melhor com a mamãe, que foi tudo que me restou.

   (Enquanto pensava sozinha sobre isso o telefone toca, é uma tia que há muito não lhe falava).

   - É sua mãe, volte pra casa o mais rápido possível, ela não está bem...

   - ...

   Logo agora que resolveu aproveitar o tempo que lhe restava de convívio, o destino lhe prega essa peça, sai de casa correndo na esperança de poder chegar em casa a tempo, mas ao sair, já sai consciente que essa vai ser mais uma lembrança que vai dar arrependimento para o resto da sua vida.

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